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Viamão,
800
milhões de anos |
Quando
Viamão surgiu?! Para alguns, Viamão
surgiu quando Francisco Carvalho da Cunha recebeu
a autorização para construção
da Capela de Nossa Senhora da Conceição,
em 14 de setembro de 1741.
Outros vão um pouquinho mais para trás
e acreditam que seja quando os primeiros colonizadores
portugueses, paulistas, lagunenses e espanhóis
circularam pelos já conhecidos Campos de Viamão,
no final do século XVII e início do
século XVIII.
Alguns vão mais além, e acham que foi
quando os indígenas chegaram pelas redondezas
das Terras de Ibias (Ibiamon – uma das possíveis
teorias sobre a origem do nome Viamão) há
cerca de 12 ou 10 mil anos atrás.
Claro que estas premissas estão relacionadas
com a expansão humana e a toponímia
“Viamão”.
Do ponto de vista geológico, a porção
geográfica na qual está localizado o
município de Viamão é muito mais
antiga do que se imagina ocorrendo, ao longo de milhões
de anos, inúmeras modificações
mesológicas expressivas até chegar na
atual formatação fisionômica.
Estima-se que a Terra tenha 4,5 bilhões de
anos e, deste então, está em contínuas
e cíclicas transformações, alternando
períodos de aquecimento e resfriamento, marcando
profundas alterações na forma de vida
no planeta.
Além disso, a movimentação das
placas tectônicas que ora unem, ora separam,
grande massas de “terra”, resultam no
erguimento de cadeias de montanhas, abertura e fechamento
de oceanos e mares, surgimento e desaparecimento de
novas ilhas...
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Portanto,
trata-se de um sistema muito instável e que
requer muito cuidado, principalmente quanto ao uso
de ações que causam grandes impactos
como, por exemplo, o uso indevido de energia nuclear
(detonação de bombas nucleares), podendo
provocar interferência irreversíveis
nos ciclos de eventos que naturalmente ocorreriam
em nosso planeta, ao longo de milênios.
Para entendermos melhor sobre esta história,
precisamos retornar a tempos bem remotos.
Há mais ou menos 800 milhões de anos
os continentes sul-americano e africano estavam separados
pelo primitivo oceano chamado de Adamastor. Neste
período começa a movimentação
das placas no sentido de colisão entre os dois
continentes.
Neste
processo, ocorre extravasamento de magma, vulcanismo,
terremotos, no meio deste oceano, formando um divisor
montanhoso. Isso deu origem a um novo oceano, o Charrua.
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Entre
750 e 730 milhões de anos atrás, os continentes
sul-americano e africano colidiram, formando, juntamente
com a Antártica, Austrália e Índia,
o Continente de Gondwana. |
A
força desta colisão, gerou uma extensa
cadeia de montanhas denominada de Cinturão Dom
Feliciano. Nos limites desta colisão, muitas
falhas ficaram marcadas e, duas delas, com cerca de
800 quilômetros de extensão, cruzavam a
atual Região Metropolitana, chamadas de Sutura
de Porto Alegre e Zona de Cisalhamento de Porto Alegre. |
Os
atuais morros graníticos da Região Metropolitana
começaram a emergir ainda no período pré-cambriano,
há mais de 550 milhões de anos, por meio
de intensa erosão e espessamento destas falhas
no Cinturão Dom Feliciano, causadas principalmente
pelos movimentos, agora extensionais, das placas tectônicas
(separação dos continentes). |
Para
se ter uma ideia de quanto isso é antigo, neste
período não existiam vida terrícola,
apenas aquática, representada por algas, corais
e primitivos crustáceos.
Por milhões de anos este bloco de rocha sofreu
intemperismo constante, erodindo e depositando enormes
camadas sedimentares nos vales e em direção
à costa, passando por Viamão. |
Entre
as unidades graníticas mais antigas está
o Granito Viamão, que ocorre na parte leste de
Porto Alegre e, obviamente, em Viamão. Caracteriza-se
pelo relevo suavemente ondulado, recoberto por sedimentos
originados da bacia do Rio Gravataí (norte) e
Planície Costeira (leste-sul).
Por volta de 400 mil anos atrás (Pleistoceno),
houve uma elevação na temperatura do planeta
(períodos interglaciais), derretendo grandes
massas de gelo acumulado nas montanhas polares, durante
a glaciação Mindel (580-450 mil anos),
dando início à primeira grande transgressão
marinha que cobriu praticamente todas as áreas
baixas, incluindo toda a planície viamonense,
ficando emergente apenas os morros mais altos de Porto
Alegre, Viamão (Itapuã e Morro Grande)
e um cordão de restinga sedimentar arenosa chamada
de Coxilha das Lombas (inicia em Tapes, atravessa Viamão,
passando por Santo Antonio da Patrulha, terminando em
Osório). |
Durante
a regressão marinha, a barreira formada pela
Coxilha das Lombas isolou o sistema lagunar do Guaíba-Gravataí.
A segunda transgressão ocorreu há cerca
de 325 mil anos, em menor intensidade, penetrando
principalmente no Norte e no Leste, deixando em sua
regressão depósitos sedimentares na
região do Vale do Gravataí, das Águas
Claras, Pimenta e Lombas, em direção
ao litoral.
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As
duas últimas transgressões (120 mil
e 5 mil anos atrás), praticamente definiram
a atual conformação do território
viamonense, o sistema de lagoas litorâneas e
a delimitação da costa sul-rio-grandense.
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Atualmente
estamos vivendo um período interglacial que,
segundo a maioria dos especialistas em climatologia,
com tendência ao resfriamento e por consequência
em direção a uma nova era glacial, a qual
ainda não sabemos precisar quando atingirá
seu ápice. Provavelmente será além
de 50 mil anos.
Após a próxima glaciação,
a fisionomia do atual município de Viamão
poderá apresentar alterações, é
só esperar para ver!
Portanto, quando me perguntam: quantos anos tem Viamão,
eu respondo: Tens tempo?! Pois a resposta
pode ser um tanto prolongada.
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"Desenho:"
Valter Fraga Nunes,
http://www.geomaps.com.au/scripts/guerillabay.php
e Atlas Ambiental de Porto Alegre. |
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Valter
Fraga Nunes - O autor
Nascido em Viamão, dia 4 de março de 1962,
é filho de Luiz Cabral Nunes e Vanda Fraga Nunes.
Estudou no Grupo Escolar Setembrina, no Colégio
Castelo Branco (no tempo que era junto ao Stella Maris)
e na Escola Técnica Agrícola (um dos melhores
momentos de sua vida, que guarda com muito carinho).
Licenciado em Ciências Biológica pela Unisinos
e com mestrado em Botânica na Ufrgs, é
funcionário público federal desde 1981
e pesquisador do Núcleo de Pesquisa Histórica
de Viamão Mario Curtis Giordani, com ênfase
sobre Tropeirismo.
Membro
suplente do Conselho de Cultura de Viamão, no
segmento sobre Patrimônio Cultural, é um
dos coordenadores da Tropeada Cristóvão
Pereira de Abreu.
Pessoa
de vida simples, normalmente bem-humorado, mas quando
perde as estribeiras, é melhor icar longe. Gosta
de conviver com a natureza, mas não dispensa
tecnologia, principalmente de comunicação.
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Acha
que as duas coisas bem balanceadas coexistem bem (tecnologia
e natureza). Aprecia toda lida do sítio, principalmente
manter a horta e icar perto dos familiares e animais
que mais lhe correspondem com carinho que são
os cachorros, a mula “Meia Noite” e os burros
“Guri” e “Raschi”, parceiros
de muitas tropeadas pelo Rio Grande afora.
Não tem muitas ambições na vida,
que já passou de meio século. Quer apenas
viver tranquilo e continuar pesquisando, estudando e
aprendendo sobre as origens e as tradições
do povo gaúcho e do movimento tropeiro que transformou
o continente sul-americano, integrando o Brasil de Norte
a Sul.
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